Caçando...
terça-feira, 9 de julho de 2013

O Homem de Aço decepciona

Drama da versão realista do Superman fica só no papel em filme sem encanto e conexão emocional

Com roteiro da Nolan e Goyer, e direção de Zack Snyder, talvez filme precisasse de uma outra equipe


Superman tem uma história longa nos cinemas. Começou em 1978 em um inesquecível longa dirigido por Richard Donner e que teve uma performance icônica de Christopher Reeve. Ganhou mais três sequências sendo que as duas últimas não foram bem recebidas terminando por pausar a carreira do herói nos cinemas. Então, em 2006, Brian Synger(X-Men- 1,2) retomou a franquia em um filme homenagem aos longas originais, dessa vez protagonizado pelo fraco Bradon Routh( Scott Pilgrim Contra o Mundo).

O filme não cativou o público e não rendeu o suficiente para gerar mais continuações. Superman parou então mais uma vez. De lá pra cá (e até mesmo antes), rolou muita história sobre o destino do personagem nos cinemas [Veja nosso especial Quase Filmes- Flyby] até que Christopher Nolan(Trilogia Cavaleiro das Trevas), querido pelos filmes do Batman anuncia que tem um ideia para um reboot do personagem e se junta a David Goyer, que escrevera Batman Begins para desenvolver um roteiro. Se isso ainda parecia pouco para deixar os fãs de quadrinhos malucos, eis que Zack Snyder(300, Watchmen) é anunciado para dirigir a empreitada. Fica difícil não guardar uma certa ansiedade quando um combo de realizadores com esses currículos, se junta para fazer um filme do gênero. E se um filme é o tamanho da expectativa, posso dizer que, Homem de Aço, infelizmente se mostrou uma grande decepção.

A história, de maneira geral, é a mesma de sempre. O planeta Krypton explode não antes que Jor-el (Russel Crowe) e Lara Lor-Van (Ayelet Zurer) enviem seu filho Kal-El (Henry Cavil) ao distante planeta Terra. Lá, o garoto cresce em uma fazenda no Kansas, sob a tutela de Jonathan e Martha Kent (Kevin Costner e Diane Lane) que por medo que seu filho adotivo (nomeado por eles de Clark) não seja compreendido pelos humanos por suas habilidades extraordinárias, o ensina a escondê-las fazendo com que o rapaz cresça contido e cheio de inseguranças. O que esse reboot agrega a essa história já tão conhecida por tanta gente é justamente o “realismo” que o Nolan trouxe para o Batman. Era o momento de colocar o Superman no mundo real, um muito mais inóspito e com isso se diferenciar dos filmes anteriores que tinham um clima mais leve. No papel, a ideia era excelente já que Superman é em essência, um símbolo de esperança e colocar ele em um mundo mais cinzento traria dilemas interessantes ao personagem. O problema é que na prática, apesar das semelhanças estruturais com o roteiro de Batman Begins, este Homem de Aço tem muito mais erros do que os acertos visto no primeiro filme do Homem Morcego.
o homem de ac3a7o revista empire 04 650x348 O Homem de Aço | Crítica
O filme de fato gasta boa parte de sua primeira metade trabalhando essas ideias do Clark tentando encontrar seu lugar no mundo. O problema é que Zack Snyder não deixa as cenas contemplarem esses dramas. O drama está escrito mas quase nada se sente. A edição é dura e muito rápida, e assim como em Batman Begins, aposta na estrutura de flashbacks. Mas aqui, as cenas respiram muito pouco. Tive mais a impressão de um conjunto de cenas coladas apressadamente do que a de uma narrativa fluida que permite que a gente se conecte com os personagens.
Uma decisão diferenciada, ainda mais levando em consideração o diretor seria o uso de câmera na mão na fotografia. Narrativamente seria um acerto já que se convencionou que câmera na mão é um artifício estilístico que agrega realismo, que é o objetivo do filme. Porém, no caso deste filme, a câmera balança demais o que gera incomodo; sem falar que o estilo de filmar parece ter comprometido a encenação já que muitas cenas são confusas, e as vezes a câmera se aproxima demais de rostos que não estão em seus melhores momentos. Finalmente, os planos simplesmente não são bonitos. Acho que a coisa mais improvável que você pode esperar de um filme de Zack Snyder, acima de tudo, é que ele não seja belo de se olhar. Homem de Aço tem poucas imagens marcantes e as poucas que ficam são logo tiradas de cena pela montagem brusca.
o homem de ac3a7o revista empire 13 650x384 O Homem de Aço | Crítica
Sobre os atores, confesso que não achei Henry Cavil tão carismático. Não sei se por culpa de uma suposta falta de talento do ator (nunca vi outros de seus trabalhos) ou se por que o próprio filme não permitia que a performance do rapaz fosse melhor contemplada. A cena que resolve a questão de sua identidade por exemplo, não funcionou para mim. O mesmo vale para Lois Lane (a belíssima Amy Adams). Sua personagem simplesmente não tem muita graça e seu romance com o herói só acontece por que a gente sabe que no cânone, a Lois é a namorada do Super e que em filmes de Hollywood, o mocinho tem que ter uma mocinha, porque em momento algum Zack Snyder desenvolve emocionalmente algum romance nas telas. Mais uma vez, o drama está escrito mas não se sente nada. O Russel Crowe como Jor-el também não está muito expressivo ficando a cargo de Kevin Costner a missão de passar algum sentimento de pai e filho algo que ele faz relativamente bem. Michael Shannon( Zod) não está mal mas, também não consigo deixar de me sentir um pouco decepcionado com sua performance um tanto dura. Ao menos é um vilão que tem boas motivações e que representa uma ameaça real.
o homem de ac3a7o revista empire 06 650x345 O Homem de Aço | Crítica
O roteiro é estruturalmente bacana e a história que ele conta, é boa. Mais uma vez comparando com Batman Begins, o filme tenta deixar tudo bem amarrado. Existe portanto um elo mais forte entre a destruição de Krypton, a vinda de Clark a Terra, a chegada de Zod exatamente no momento em que Clark assume sua identidade de Superman, entre outras coisas. Tudo bem amarrado. Mas isso não impede que o roteiro tenha vários tropeços e momentos bem estúpidos como na cena em que Lois se vê diante de uma máquina alienígena (uma cena digna de Prometheus), assim como a capacidade de teletransporte que a moça parece ter adquirido sabe-se lá onde, já que ela está em todos os lugares e nas horas mais convenientes. Vai ver quiseram passar a ideia de que ela é uma excelente repórter. Só que não. Também não se sabe por que em determinado momento, Zod pede que a Lois embarque em uma de suas naves espaciais. A não ser, claro, pela pura conveniência dela resolver um obstáculo futuro.
Outra ideia bacana que ficou, mais uma vez, somente no campo das ideias, é a sacada de mostrar a história do primeiro encontro de um alienígena com seres humanos. Mais uma boa ideia que agrega ao conceito de realismo que o filme propõe, mas o filme não possui nenhum senso de encanto diante do encontro inédito. As pessoas estão vendo pela primeira vez um ser absolutamente incrível mas agem e aceitam a situação de maneira rápida e pouco crível. Nenhum ser humano no filme parece maravilhado ou aterrorizado com o fato de que está vendo alienígenas pela primeira vez. No primeiro contato que o Superman tem com o exercito, ele conversa com um soldado e este age e fala como se um ser de outro planeta fosse algo natural. Dessa vez o drama nem estava escrito.
homem de ac3a7o alta resoluc3a7c3a3o1 650x279 O Homem de Aço | Crítica
Depois de investir metade da projeção em um drama vazio e desajeitadamente costurado, o filme parece chegar onde Zack Snyder queria. Na ação. É justamente aqui onde filme ganha um ritmo que embora mais intenso, ao menos deixa que o espectador entre no clima. A pancadaria começa a rolar e quem queria ver o Superman em uma batalha épica não vai se decepcionar. A despeito de um efeito especial que aqui a ali soam artificiais, as lutas são incríveis e altamente apocalípticas. Se um dia Hollywood fosse investir 225 milhões em um filme de Dragon Ball Z, era exatamente isso que veríamos para se ter um pouco de noção do nível épico das batalhas. Mas cenas de ação incríveis não são suficientes. Em primeiro lugar, o filme se demora demais quando a ação começa. Depois de muito tempo, toda a pancadaria, explosões e destruições começam simplesmente a cansar, já que quase nenhuma história é mais desenvolvida. Segundo, o Superman luta de maneira altamente irresponsável e embora possa se defender a ideia de que ele não tem escolha, não tem como não deixar de notar que ele em momento algum faz alguma coisa para levar a luta para um lugar onde milhares de pessoas não estejam correndo grande risco. Para piorar, mesmo em meio aquele caos, Superman em momento algum faz algo para salvar civis que estão claramente em perigo. Ele é praticamente o Jesus Cristo como o filme menciona mais de uma vez (no limiar entre a sutileza e a forçação de barra),  mas ele apenas luta desesperadamente com o Zod e seus parceiros sem a menor preocupação com todos ao seu redor. Metrópolis vira cinzas enquanto eles lutam e percebe-se que pessoas estão morrendo no processo, e o Superman parece sequer se importar. Fica difícil aceitar isso como um mero problema, comum a qualquer filme de super herói ou de ação quando a gente está vendo o Superman, a maior representação dos valores de um super herói, destruir cidades por mais de 40 minutos de projeção sem mover um músculo para salvar um cidadão. Essa “decisão” alias, compromete emocionalmente uma cena que deveria ser bastante forte ao final da projeção envolvendo Super e Zod, mas que diante do estrago que se presenciou cria-se muito mais uma sensação de contradição do que de drama.
o homem de ac3a7o superman 02 618x400 O Homem de Aço | Crítica
Um último ponto a comentar seria a trilha de Hans Zimmer, que a despeito de ser um dos melhores compositores desta geração não faz, obviamente, um trabalho melhor que o de John Williams. Auto consciente disso, ele faz um trabalho que de certa forma até se afasta um pouco, trazendo uma trilha as vezes melancólica para comentar as cenas “dramáticas”, as vezes mais esquisita e ameaçadora para os momentos tensos e de ação. Os dois temas que ele cria para o Superman são belíssimos, sendo único responsável por criar uma sensação de encanto no espectador, como no momento em que o Superman voa pela primeira vez. O único “senão”, é que trilha soa meio repetitiva, e quando a ação começa ela se torna um tanto monocórdica e ranheta. Isso no alto e bom som de um IMAX (como foi o caso em que eu assisti o filme) pode realmente incomodar.
Eu tenho a sensação de que eu poderia escrever muito mais sobre filme. Ainda faltou falar mais de outros personagens e me aprofundar em mais questões, mas se eu fizer nunca vou conseguir terminar de escrever esse texto, já que o poder de ser sucinto é uma habilidade que ainda não desenvolvi, e a quantidade de problemas deste filme especificamente não colaboram. Mas em suma, Homem de Aço é um filme sem encanto e que não gera conexão emocional com o espectador, o que me fez repensar que a empolgação que senti quando anunciaram os realizadores. Não era filme pra Nolan, Goyer e Snyder de fato; era um filme para alguém cujo sangue circula nas veias com mais intensidade. Fiquei imaginando então o que J.J. Abrams teria feito. Uma coisa é certa, ao menos o drama não seria apenas escrito.
VIA: enxame
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